sábado, 13 de julho de 2013

Depois de 44 anos, Hollywood é finalmente inteligente o suficiente para fazer um filme Judy Blume.

Publicada no The Village Voice Movies.
Escrito por Nick Schager.

O primeiro romance de Judy Blume, The One in the Middle is the Green Kangaroo, foi publicado em 1969, mas só agora, 44 anos depois, que a primeira adaptação para o cinema de um de seus trabalhos - Olhos de Tigre, de 1981, finalmente estreiou nos cinemas.

Isto é uma vergonha. Pode-se imaginar muitas razões para tal insanidade. No entanto, há uma explicação que simplesmente não pode ser ignorada: o desinteresse contínuo de Hollywood em retratar a jovem feminilidade, com seriedade, uma questão que não está confinada apenas a um filme (veja também, nos seus arriscados programas teens da TV). Para um autor da estatura de Blume, com sucesso e humanidade nunca antes traduzidos para as grandes telas, é um comentário condenatório no cinema americano, especialmente considerando-se que, como histórias sobre pessoas comuns que navegam em meio a suas lutas pessoais, sociais e familiares, esses requerem uma fração do investimento logístico e monetário exigido por tantos projetos de estúdios repletos de estrelas.

Tudo isso é motivo para comemorar o lançamento de Tiger Eyes - Olhos de Tigre, e os holofotes que estão brilhando para sua célebre autora.

Olhos de Tigre conta a história de Davey (Willa Holland), uma garota que após o assassinato de seu pai, muda-se para o Novo México com sua mãe, agoniada e viciada em remédios, e o seu irmão mais novo. Eles passam a viver os tios, uma mudança geográfica acompanha por sentimentos e lutas pessoais, como Davey aprende a lidar com a morte, responsabilidade e o crescente sentimento amoroso e sexual em um local externo. É um conto contado com sensibilidade e coração, tanto no romance de Blume, quanto no novo filme dirigido por seu filho Lawrence, que mostra uma fidelidade surpreendente ao material de origem de sua mãe, que foi a co-roteirista do longa.

Embora seja um pouco minado por um enredo que parece desenvolver um final onde alguns dos dilemas de sua protagonista podem ser facilmente resolvidos, o filme continua sendo um olhar sério a desconcertante sobre a experiência da adolescência, especialmente quando mergulhada no trauma da perda, na confusão provocada pelo deslocamento, e na emoção e o medo que vem desde os primeiros lampejos de amor. É a verdade para a vida, transmitinda através da confusão emocional trazida pela experiência humana real.

Quando Blume apresentou pela primeira vez ao seu editor o manuscrito de Olhos de Tigre, incluiu um momento em que Davey se masturba no chuveiro com o pensamento em Wolf, o índio bonitão nativo americano com quem desenvolve uma relação. Depois de muito debate, Blume voluntariamente decidiu cortar a cena. Para se reverter sutilmente dessa decisão, a autora foi astuta, há um momento no filme, onde Davey está no chuveiro, sorrindo, depois de um encontro com o Wolf.

Tal implicação está em sintonia com o trabalho para jovens adultos, que aborda uma série de questões juvenis, com uma honestidade, transparência e falta de sensacionalismo, que, especialmente no momento da década de 1970 e 80, eram temas muito raros, seja a puberdade e fé (Are You There God? It's Me, Margaret), o assédio moral (Blubber), as ansiedades pela imagem corporal (Deenie), rivalidade entre irmãos e frustração (Tales of a Fourth Grade Nothing, e nos livros da série Fudge) e sexo (Forever). Para os meninos e meninas, da mesma forma, o trabalho de Blume era alegre e engraçado, mas, o mais importante, era compreensível, você pode ver a si mesmo em seus personagens e suas crises, sem ter que tentar. Agora há uma infindável variedade de romances de pensamento similar disponíveis para leitores iniciantes (minhas próprias filhas gostam particularmente da série de Barbara Park, Junie B.Jones) que confirmam a velha teoria sobre imitação e lisonja. Mais importante, porém, fala com uma fome incansável de não ficção, que é ao mesmo tempo cômica, sincera e autêntica.

A fome que Hollywood, é claro, não tem quase interesse em satisfazer-se. É verdade, tem havido exceções: "Quatro Amigas e um Jeans Viajante", bem como a adaptação de "Ramona e Beezus" de Beverly Cleary, tiveram como alvo o mesmo tipo de mercado iniciado por Blume, e até mesmo a série "Diário de um Banana", filmes que tem focado mais na vida dos meninos. E claro, "Crepúsculo" e "Jogos Vorazes", franquias que provaram ser veículos do gênero, sendo imensamente populares e lucrativas e com narrativas de jovens mulheres. 

No entanto, estas são notas de rodapé raras em um meio que as grandes ações e fantasias são de orientação masculina acima de todas as outras preocupações, uma cultura cinematográfica que possui centenas de lançamentos nacionais anuais, mas que ainda deixa as jovens espectadoras (especialmente aquelas com interesse em roteiros realistas, dramas discretos) em um meio-fio multiplex. E, para agravar o problema, esse tipo de jovens e suas extravagâncias parecem cada vez mais ter a intenção de descrever as mulheres de maneiras sexualizadas, a tal ponto que até mesmo o filme "Oz: Mágico e Poderoso" sentiu a necessidade de re-imaginar a Bruxa Malvada do Oeste como uma mulher bela verde com grandes seios.

A falta do contraponto a representações da feminilidade é agora tão drástica que um filme tão modesto e despretensioso como "Olhos de Tigre" ressoa como uma revelação. Isso não quer enganar o diretor Lawrence Blume, que tem uma refrescante franqueza, provavelmente nascida da capacidade dos cineastas para manter um estreito controle criativo limitado aos $ 2 milhões do projeto, que carrega isso sobre seus patches mais instáveis. Pelo contrário, é simplesmente para sublinhar quão horrenda tornou-se a atual paisagem cinematográfica em termos de perseguir ativamente o tween feminino e o público adolescente, que por sua vez, faz "Olhos de Tigre" não apenas uma lufada de ar fresco, mas também uma oportunidade bem incomum para os cinéfilos de expressar suas demandas com a única coisa que Hollywood sempre entende: o dólar.

Original em Ingês aqui.